quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

80 centavos

O Felipe estava no ponto de ônibus, meio distraído, esperando pela condução que o levaria de volta para casa depois de um dia inteiro de trabalho. Nesse meio tempo, um rapaz meio maltrapilho se aproximou, e pedindo licença começou a contar sua triste (e bem ensaiada) história.

O homem, que se identificou como Adelino, narrou emocionado sua infeliz jornada. O pobre coitado mal tinha chegado na capital, vindo de Queijadinha do Oeste (ou alguma outra cidade do interior com nome parecido) e fora informado que de sua velha mãe tinha sido internada em sua terra natal. Estava, segundo seus parentes, à beira do fim. Em função disso, o pobre Adelino teria que deixar seu sonho de conseguir um bom emprego na cidade grande para outra hora, já que tinha decidido ir ao encontro de sua progenitora. O problema era que, coitadinho, não tinha como pagar a passagem de volta. Sendo assim, explicou que não teve outra alternativa a não ser a de sair pelas ruas pedindo o auxílio de desconhecidos como o Felipe, a quem ele gentilmente solicitou, se não fosse muito incomodo, que lhe doasse míseros 80 centavos, a quantia específica de que precisava para completar o valor de seu retorno à aprazível Queijadinha do Oeste.

O Felipe sabia que a história cheirava à golpe, mas não teve outra escolha a não ser tatear os bolsos e retirar os trocados pedidos pelo Adelino, que quase chorando de alegria agradeceu e se despediu afirmando que, graças ao auxílio do nobre transeunte, ele poderia voltar para casa rever sua velha mãe doente.

Ao se afastar, o Felipe suspirou inconformado com seu próprio coração de açúcar, incapaz de dizer não mesmo quando sua razão dizia para não atender os pedidos daquele que obviamente era um charlatão. Conformado com sua própria covardia, deu de ombros, afirmando mesmo sem muita convicção para si mesmo que ele só tinha “se feito de trouxa” por estar de bom humor. Em outras circunstâncias, não seria assim.

Dias depois, o mesmo Felipe caminhava pela rua meio displicente a tudo quando, para sua surpresa, o mesmo Adelino (aquele que teoricamente ele tinha ajudado a voltar para casa) se aproximou para lhe contar a mesma triste história de antes.

Indignado com tamanha cara de pau (e com a falta de memória) do pilantra, o Felipe decidiu que daquela vez não se faria de besta. Iria reagir. Para se certificar da “escala richeter” de safadeza do Adelino, fez questão de ouvir a história até o fim, para ver se algum detalhe específico destoava do discurso anterior. Tudo igual: Queijadinha do Oeste, mãe doente, pouco dinheiro e 80 centavos para completar a passagem. Até os suspiros e os trejeitos de quem está prestes a cair no choro ele repetiu.

-E então? O senhor pode me ajudar a voltar para casa?

-Escuta Adelino... Posso te chamar assim?

-Pode sim senhor!

-Então tá! Me diz uma coisa Adelino: você não lembra de mim, não?

-Não senhor!

-Pois eu lembro de você! Faz umas duas semanas, mais ou menos, eu estava aqui perto esperando ônibus e você veio me contar essa mesma história.

O Adelino arregalou os olhos surpreso, como se tivessem lhe relatado a existência de um irmão gêmeo desconhecido.

-O senhor tem certeza? Você deve estar se confundindo!

-Não, absolutamente. Era você!

O Adelino reagiu como se tivesse sido ofendido.

-Eu?? O senhor está enganado!

-Não, não estou!

-Escuta: a minha mãe tá doente e...

-Me poupe da balela! Eu sei qual é a tua!

-O senhor está insinuando que eu estou fazendo isso só para enganar as pessoas?

-E não é por isso? Pelo que seria então?

-Para poder voltar pra casa ver minha mãe doen...

-Já disse que a mim você não engana mais!

O Adelino parou, pensou, e com cara de quem acaba de descobrir uma conspiração das mais cabeludas disparou:

-Já sei! Deve ter alguém mal intencionado que soube que eu estou por aqui e está tentando se aproveitar dos meus problemas. Alguém que está se fazendo passar por mim! Deve ter sido ele que o senhor viu esses dias atrás!

-Ué... Você não disse que tinha chegado hoje na cidade?

-Vai ver que descobriram que eu viria pra cá!

-E eles sabiam também que sua mãe ia adoecer?

-Ah... Bem... Ééé... Ela já estava meio fraquinha quando eu saí de lá!

-Você disse que ela era forte como uma pedra, lembra? Que você estava até duvidando do tal internamento dela!

-Bem... É que...

-Já chega amigo! Você é persistente, eu admito, mas a mim você não engana mais!

O Adelino se indignou.

-É por gente como você que o país não vai pra frente! Fica aí negando ajuda pra um pobre coitado que não tem como voltar pra casa! Você deveria se envergonhar. Se eu tivesse pedido uma quantia alta... Mas são só 80 centavos. Pra eu rever a minha mãe. Que tá doente. Ah... Quer saber? Faça o que bem entender, ouviu? Seu desalmado!

Dito isso, ele se virou e foi embora, bradando protestos para todos os lados, fazendo com que o Felipe virasse alvo de dúzias de olhares desaprovadores dirigidos pelos demais transeuntes que se indignaram com a falta de compaixão do rapaz para com o pobre homem desafortunado de Queijadinha do Oeste.

Ao longe ainda dava para se ouvir os protestos indignados do Adelino:

-Que povo desalmado! Isso é uma vergonha! Esse mundo tá perdido!

Ao Felipe, sem graça, só restou suspirar e concluir que, apesar dos pesares, o Adelino era insistente. Tinha lá os seus méritos:

-É... Brasileiro não desiste nunca... Nunca mesmo!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Um ano depois

Caríssimos visitantes: acreditem ou não, há exatamente 365 dias atrás, entrava no ar o “Eu Não Sei Fazer Poesia”, esta porcaria que vossas senhorias estão lendo nesse exato instante. Para quem imaginava que largaria tudo um ou dois meses depois do início do “projeto”, completar um ano de existência é uma conquista e tanto. Afinal de contas, entre erros e acertos, aprendi muita coisa nova que levarei adiante em minha vida.

Analisando os fatos, posso afirmar com convicção que foi uma ótima idéia a de criar esta espelunca. Não digo isso em função de meu suposto “talento” literário, pelo contrário: acho que eu deveria ter vergonha (como de fato tenho), de muitas das coisas que eu publiquei aqui. O que me motiva a dizer que a experiência foi válida, são outros fatores, muito mais valiosos.

Entre as vantagens que constatei, destaco a criação de uma via de escape interessante para minhas frustrações pessoais. Sabe aquele momento em que você não tem absolutamente nada pra fazer? Pois é... Apesar de terem sido raros os momentos em que tive a oportunidade de me classificar como um cara “sem nada para fazer”, pude tirar proveito dessas ocasiões de uma forma mais vantajosa do que meramente ficar sentado em casa vendo TV ou coçando o saco (perdão pelo palavreado chulo, senhoras). Além disso, sempre que me vejo “puto” com alguma coisa ao meu redor, procuro tirar o foco de meu problema e transferi-lo para a criação de alguma história cretina. Por vezes isso me ajudou bastante.

Mas sem dúvidas, o mais importante nessa brincadeira foram as amizades que fiz e que fortaleci graças ao blog. Não parece, mas ter um espaço para escrever serviu como uma luva para me reaproximar de velhos conhecidos que só se manifestavam eventualmente. Além disso, os novos visitantes que passaram a manter contato também são outros dos presentes que recebi. Pessoas que mesmo sem me conhecer direito passaram a me dedicar atenção e carinho.

Eu andei pensando em bolar alguma coisa especial, algo que servisse simbolicamente para representar a postagem de um ano. As idéias, no entanto, foram bem menos originais do que eu supunha. No fim das contas, cheguei à conclusão de que iria fazer um áudio, uma espécie de podcast onde eu agradeceria a todos os meus visitantes “pessoalmente”. Cheguei a gravar e a editar o conteúdo inclusive... Mas sabe quando você faz alguma coisa que sente que não ficou legal? Quer dizer: isso sempre acontece quando eu termino de escrever um texto, mas dessa vez a sensação foi forte demais. Sendo assim, acabei de decidir que vou poupar-lhes de ouvir minha voz naquela porcaria que gravei. Quem sabe daqui a algum tempo eu faça um negócio mais caprichado. Por hora é melhor eu ficar quieto, só escrevendo.

Para não dizer que a data passou em branco, resovi fazer um cabeçalho novo para o blog, como vocês devem ter percebido. Pra variar, achei que ficou ruim. Mas como eu gastei horas e mais horas no Photoshop, resolvi ser cara de pau o bastante pra prosseguir com a baixaria. Seja o que Deus quiser.

É isso pessoal: peço perdão por não ter conseguido bolar nada mais original do que isso, mas definitivamente não sou o melhor cara do mundo para pensar nesse tipo de coisa! Apenas gostaria de agradecer, e muito, o carinho e as palavras de apoio que vocês gentilmente me dedicaram nesse ano. Sem dúvida nenhuma, é graças ao seu apoio caro leitor, que eu continuo destruindo o bom senso literário e a concordância lingüística aqui nesta espelunca. Não me atreverei a citar nomes com medo de esquecer de alguém e cometer alguma injustiça. De qualquer forma, tenho certeza que você (é, você mesmo) sabe do valor que teve para mim e para a continuidade deste blog. Sendo assim, sinta-se formalmente homenageado por este charlatão.

A todos vocês o meu humilde, porém sincero, muito obrigado.

Beijos no cérebro!

Até mais!

Sessão premiada

Ó eu aqui outra vez. Para você que ainda não percebeu, hoje este blog completa um ano de existência. Coincidência ou não, esta semana tive a o prazer de ser lembrado duas vezes por duas de minhas colegas de blogosfera: a Van e a Chuvinha, que me premiaram respectivamente com o “Blog Cabeça” e o “Este Blog Não Me Sai da Cabeça”.

Às duas, deixo aqui o meu sincero e humilde muito obrigado pela lembrança. É um prazer enorme receber o carinho de duas pessoas que tive o prazer de conhecer à pouco tempo, mas que mesmo assim já me acharam digno de tal honraria. Apenas peço desculpas por não repassar o prêmio adiante. Sou daqueles tipos corujas, que não tem coragem de escolher novos blogs por medo de estar cometendo alguma injustiça. Espero que me perdoem, mas esse é o meu jeitão esquisito de ser (hehehe).

Outra coisa: isso já aconteceu faz um bom tempo atrás, mas aproveitando esta “sessão premiada” (não, o Celso Portioli não tem nada a ver com isso) gostaria de divulgar outro dos presentes que tive: fui lembrado no Blogurinhas, uma iniciativa do blogueiro Sampson Moreira do Inova Vox, um dos mais importantes blogs do Brasil. A idéia do prêmio foi simples: reunir os sites pessoais que, na visão dele, eram os melhores do país em uma espécie de álbum de figurinhas virtuais. Tive a honra de ser lembrado como o penúltimo da lista (a figurinha 279, mais precisamente). O mais curioso foi como eu descobri isso: estava lá, fuçando por conhecidos na lista quando, para minha mais absoluta surpresa, topei comigo mesmo. Quase caí da cadeira! A você Sampson (acho difícil você passar por aqui, mas...) o meu muito obrigado.

É isso gente. Se continuar nesse ritmo, dentro de um ano ou dois eu levo um Nobel de literatura. Alguém duvida? (ah sim, só pra garantir: isso foi uma piada!)

"Blog Cabeça" e "Este Blog Não Me Sai da Cabeça”: haja cocuruto!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Congresso Anual

No auditório, balidos, guinchos, berros, latidos, um Deus nos acuda. Ê bicharada incivilizada! Até que das caixinhas de som ecoou um rugido longo e violento. Silêncio. Nem um piu. Todos atentos à mesa principal.

Pomposo, o rei Juba Ruiva, o Impiedoso (filho de Juba Negra, o Tirano, e Juba Pastel, a Indolente) abriu os serviços do dia:

- Crraam... bem-v fuiiiiiiiiiiiiiiin – microfonia. Continuou o leão: – Bem-vindos à 2346ª Conferência Anual das Espécies Inteligentes Eleitas por Noé, neste ano realizado em terra firme conforme decisão do Conselho Mundial das Espécies Inteligentes. Para iniciar nosso encontro, convido à mesa o companheiro tubarão Branco, diretor da comissão Habitat e Nicho Marinho desse Conselho.

Nhequenhequenheque. Dentro de um aquário mínimo em cima de um carrinho empurrado custosamente por um símio de quepe vermelho, subiu ao palco a austera fera marinha, conhecido oposicionista de Juba Ruiva. Nenhuma palma; em partes por medo de zangar o rei, em partes por pavor: e se o vidro estourar? Danou-se!

Enquanto o macaco desembaçava o vidro, Juba Ruiva continuou:

- Convido a vir à mesa também o pelicano Cicone, diretor da comissão Habitat e Nicho Aéreo e vice-presidente do Conselho Mundial das Espécies Inteligentes.

Aí sim muitas palmas! O pelicano tinha aparecido há duas semanas na revista mais famosa do mundo animal mostrando a gruta onde sobrevivia, o ninho aveludado e os ovos que prometiam dar vida àquele lar. Corriam boatos de que ele seria candidato à presidência do Conselho.

Visivelmente enjoado daquele cerimonial todo, Juba Ruiva prosseguiu:

- Convido a toupeira Topero a compor a mesa, diretor da comissão Habitat e Nicho Subterrâneo do Conselho Mundial das Espécies Inteligentes.

Aí sim a casa caiu: a vaia encheu o salão, ergueram-se faixas de protesto que atestavam que desde o dilúvio não se via apadrinhagem como esta, os suricates que estavam logo na segunda fila viraram-se para a plenária, dando as costas à mesa, ao que foram aplaudidas fervorosamente. As ovelhas até imitaram o gesto. Os lagartos gritaram “baba ovo.” As hienas se acabaram de rir, eram mestras naquela história de criticar por escárnio.

Mas nada disso se mostrou muito problemático. Uns gritos de “ordem nesta casa”, uns rugidos, um olhar mais severo às zebras que insistiam em animar a balbúrdia e o silêncio se restabeleceu.

Ao leitor desinformado ou com memória de galinha, lembro que no 2343º Conferência o Juba Ruiva criou e homologou essa comissão no Conselho provando com testes humanos – ou seja, de procedência sabidamente ilegítima –, que as toupeiras tinham QI superior a 50, o que dar-lhes-ia o direito de compor o Conselho Mundial das Espécias Inteligentes. Juba Ruiva veio ainda com um discurso fajuto de reconhecimento de serviços à natureza e uma balela de direito natural que ninguém entendeu. O que a bicharada entendia e muito bem é que estavam perdendo representatividade, e perder cadeiras no Conselho era perigosíssimo para a sobrevivência da espécie. Curiosamente, desde aquela época a toupeira Topero votava sempre com o Juba Ruiva.

O leão seguiu, impondo a voz firme:

– Lembro a todos que a comissão Habitat e Nicho Terrestre da Comissão Mundial das Espécies Inteligentes é dirigida por mim, que também presido a instituição. E por fim convido à mesa ainda o diretor da comissão temática permanente Atenção ao Humano.

Juba Ruiva sequer citou o nome do diretor, talvez por não saber mesmo. Totalmente indiferentes, o bichos permaneceram impassíveis. Um dos porcos de camisa vermelha se reconheceu totalmente violentado por ter um predador sentado à mesa e guinchou uma reclamação vazia, mas não conseguir atenção. Calou-se.

Quem continuou foi a fuinha Helena, primeira-secretária do Conselho, lendo a pauta de deliberações do dia:

– Leitura das atas e das moções de apoio e de repúdio da 2345ª Conferência (só os golfinhos escreveram 550). A seguir atividades livres nos wokshops: os pandas e o movimento anti-comunista; experimentos genéticos em espécies inteligentes de roedores (tapa na cara das toupeiras que não entenderam a provocação); comentários básicos da teoria darwinista em aves consangüíneas; evidências de vida extra-terrena inteligente; participação animal: a vez e a voz das espécies inteligentes do mundo; os bisões e o aquecimento global; ovíparos, ovovivíparos: novas diretrizes para a classificação, taxonomia e nomenclatura da biologia... Seguindo na programação, temos a Reunião Geral do Conselho Mundial das Espécies Inteligentes. A seguir, apresentação dos trabalhos de grupo. E por fim Plenária Geral do dia.

Mais calmos, os bichos todos seguiram em blocos (por espécie) para as salas de trabalho relativas à sua espécie. Somente a fuinha Helena que lia cansada e os elefantes ficaram para ouvir a ata e as moções, porque eram os únicos que lembravam do começo das recomendações. A sala que deliberaria sobre os alienígenas ficou praticamente vazia: participavam somente três ou quatro corujas de olhos opacos que se interessaram pelo tema e o ofegante macaquinho de quepe vermelho, que supunha ser menos requisitado ali.

O dia correu bem, senão pelo almoço. Sempre dava problema. Era uma questão ética tradicional: durante a Conferência, comia-se apenas vegetais e insetos ou trazia-se para o evento refeição pronta, embalada e picada ao ponto de não se identificar qual o animal abatido. Mas o bafafá era sagrado. Dessa vez, foi uma capivara que disse reconhecer o cheiro de um tio recém-sumido no prato de um jacaré que comia despreocupado e jurava ser frango ao molho madeira. Os frangos, indignados, fizeram imediatamente uma moção de repúdio ao jacaré exigindo retratação formal por parte deste. Mas esqueceram o que ele tinha dito ao certo, só lembravam que era grave, e deixaram incompleto o formulário, e as chinchilas que cuidavam da parte jurídica negaram o pedido.

À tarde outro quiprocó, dessa vez mais sério. Sumiu um carneirinho. A capivara ressentida gritou: “foi o jacaré!” As zebras só se olharam: estavam certas que tinha sido o Juba Ruiva, mas quem é que provaria? E a sra.Carneiro chorava, desmaiou mais de uma vez. Ô, meu Deus, cadê o carneirinho!? Procura, procura. Nada. Até que ouviram um barulho do lado de fora.

Descobriram o carneirinho estirado na grama ao lado do auditório principal tremendo, jurando espontaneamente que não vira quem o atacou. Um sapo com a boca costurada negava coma cabeça que tivesse visto algo. Juba Ruiva exigiu que o autor daquele ato hediondo se apresentasse, que aquilo era selvageria e sei lá mais o que é que era, que nunca isso tinha acontecido antes ali. O culpado não teve a decência de se apresentar. O pelicano ficou publicamente escandalizado mas disse que estava certo de que Juba Ruiva encontraria o desleal causador desse horrível transtorno.

A noite ganhou tom solene. Graças ao Juba Ruiva, a família carneiro recobrara a paz. Uma cobra havia sido apanhada e encontrada já morta – a pauladas –, provavelmente de remorso. Jogaram-na num canto visível. As outras cobras não levantavam a cabeça do chão, tamanha a vergonha. E aumentaram a segurança do evento. Dobrou o número de gorilas a rondar por aí.

No dia seguinte, tudo bem novamente. Apenas os elefantes não se contentavam com a história de uma cobra daquele tamanho não ter conseguido dar o bote em um carneiro tão novinho; os demais sequer lembravam-se do incidente. E sem ninguém ver, o homem foi embora. Saiu à francesa. Não conseguiu ficar sem comer carne.


Carlos Pegurski

Participação Especial

Senhoras e senhores, autoridades civis, militares, diplomáticas e eclesiásticas: tenho a enorme satisfação de anunciar a primeira participação especial neste blog. E é especial mesmo.

Logo acima (ou clicando aqui) vocês terão a oportunidade de ler uma crônica escrita por um de meus bons amigos, o excelentíssimo senhor Carlos Pegurski.

O Carlos é um cara Genial. Sem puxassaquismo! Possuiu uma capacidade intelectual maior do que eu provavelmente terei durante toda a minha vida. Além disso, o rapazote tem um talento nato para escrever textos repletos de significado e humor. Eu sou testemunha! O único problema é que este simpático garoto se recusa a escrever periodicamente em um blog. Aí fica difícil. Neste caso, tomei licença para demonstrar aqui mesmo uma pequena amostra de seu talento. Vai que ele se empolga e resolve fazer um também, né?

O texto acima é sensacional. Dá pra ter uma noção exata do que o cara é capaz de fazer.

A você Carlos, o meu sincero muito obrigado por permitir que eu me aproveitasse de seu talento aqui nesta espelunca. Juro que se eu fosse uma loira gostosa e podre de rica eu te daria moral (não, eu não sou gay... podem acreditar)!

Ah sim: o rapaz é tímido e preferiu não permitir que eu expusesse seu rosto. Normal. Realmente é preciso ter muita coragem para por a cara em um blog sem prestígio como o meu (hehehehe).

Divirtam-se!

domingo, 13 de janeiro de 2008

O último romântico

A Eliana tinha começado o ano na praia, curtindo Sol e água fresca. Tinha tido um ano difícil, e estava prestes a dar um passo gigante em sua empresa. Logo no seu retorno das férias, teria uma reunião que poderia mudar os rumos de sua carreira. Bastava fazer uma apresentação convincente. O período de descanso tinha sido estrategicamente planejado para que, além de recarregar as batérias, ela pudesse planejar todos os detalhes da empreitada.

O que ela não esperava, era ter encontrado um namorado em pleno momento de preparação: o César. Era um cara bacana, bem apessoado, e muito, muito carinhoso. Nunca tinha conhecido alguém tão romântico e dedicado a um relacionamento como ele. Eram flores, presentinhos e agrados diários em doses cavalares. A Eliane se achava a mulher mais sortuda do mundo. Desde que tinham se conhecido, não tinham mais desgrudado um do outro.

Com o passar dos dias, surgiram até um ou dois boatos de que o César não tinha um histórico muito bom no que dizia respeito à relacionamentos, mas ela ignorou. Era óbvio que aquílo não passava de inveja.

No dia da volta das férias, a Eliane sentia-se super confiante: estava descansada, preparada e apaixonada. Nada iria da errado, podia sentir. Despediu-se do César, e foi ao encontro do mais novo desafio de sua vida.

Foi então que, minutos depois do início da tão aguardada reunião, tudo aconteceu.

***

-Alô?!

-Oiiiiiiiiiiiii amor!!!!

-É você César? Aconteceu alguma coisa?

-Aconteceu sim!

-Ai meu Deus! O que houve?

-Me deu saudades!

-Como é que é?

-Me deu saudades... Faz mais de duas horas que a gente não se fala! A gente começou a namorar a tão poucos dias, né? Ainda não tinha ficado tanto tempo sem falar com você, por isso resolvi te dar um oi!

-Amor... Veja bem: lembra que eu tinha te falado que eu estava me preparando pra uma reunião super importante?

-Lembro sim!

-Pois então... Eu estou no meio dela!

-Ahhhhhh! Sério?

-É, é bem sério. Aliás eu tenho que voltar pra sala antes que eles se dêem conta de que eu saí de lá! Depois eu te ligo, ok?

-Ok, minha princesa linda! Eu te amo muito meu amor! Você é minha vida e...

-Eu também amor... Desculpa mas tenho mesmo que ir! Tchau!


20 minutos depois.


-Alô?!

-Ammoooooooorrrrr!!!!

-O que é que foi? A reunião ainda não acabou!

-Não?

-Não!!!

-Ahhhh... Que chato, né?

-Não é chato não! É a minha oportunidade de ser promovida na empresa. Se eles gostarem do meu projeto, eu posso ser convidada a comandar o meu setor! Isso é muito importante pra mim!

-Aiiiiiiii... “Ti fofinha” que você é!

-Eu vou voltar pra lá meu bem! Quando a reunião terminar eu te ligo, prometo!

-Então tá minha fofura! Eu te amo demais e...

-Tchau!


15 minutos depois.


-Alô!

-Meeeeuuuuu dooociiiinhooooo...

-César... Me escuta: eu não tinha te dito que ia te ligar assim que a reunião terminasse?

-Disse!

-Então porque é que você me ligou agora??

-É que assim: eu fiquei pensando... Poxa! É um momento muito importante pra você, não é?

-Sim!

-Então... Acho que você deve estar super tensa!

-É, eu estou bem tensa, principalmente porque você fica me ligando e...

-Então eu pensei no seguinte: se a gente conversasse, talvez a sua tensão diminuísse um pouquinho. Daí você poderia voltar pra reunião mais relaxada.

-Escuta: você quer mesmo me ajudar?

-Quero sim meu anjo lindo de asas bran...

-Então, por favor, não me ligue mais! Não agora! Espere eu te ligar, Ok?

-Ok meu amor! Agora eu não ligo mais. Prometo. Pode até desligar o telefone se quiser!

-Eu não posso. Meu colega ficou de ligar passando umas informações importantes pra reunião. Tenho que deixar ele ligado!

-Ah... Ok... Então tá!

-Tchau!

-Tch...


10 minutos depois.


-César... O que é que foi agora César??

-Me esclareça uma coisa:

-Pelo amor de Deus! Espera eu terminar a reunião! Meu chefe ta espumando lá dentro!

-Quem é esse seu colega?

-Que colega?

-Esse que você falou que ia te ligar!

-É o Beto! O cara que trabalha comigo... Mas o que é que tem ele afinal de contas?

-O “cara que trabalha com você”? Tem certeza que ele é só seu colega?

-Ah César! Me poupe! Eu já estou “P da vida” com você! Não me venha com esse ciúme besta agora!

-É assim é? É assim? Agora eu estou entendendo! É por isso que você não quer que eu fique te ligando, né? Só pra não atrapalhar a ligação do Beto. É ou não é? Vamos, admita!

-Quer saber? Vai te catar!

-Como é que é Eliane? Como é que é? Alô... Alô?


15 segundos depois.


-PUTA QUE PARIU CÉSAR!!

-É você Eliane?

-Não... É o coelhinho da páscoa!

-Como?

-Porque é que você ligou de volta, hein?

-Achei que a ligação tinha caído! Você sumiu da linha!

-Eu desliguei!

-Porque?

-E não é óbvio?

-(...)

-É óbvio ou não é César?

-Estou pensando!

-Ahhhhh...

-O que foi?

-César... Escuta aqui César: eu estou em reunião. Pelo amor de Deus, me deixa em paz! Depois eu te ligo!

-E esse Beto?

-É meu colega! O que é que isso tem de mais?

-Fiquei com ciúmes!

-Ciúmes de quê, homem de Deus?

-Ah... Sei lá! Ele é homem, você é mulher... Você me entendeu!

-Não, juro que não entendi!

-Ô amor... Eu estou sendo um pouquinho chato né?

-Chato? Você? Imagina...

-Mas se é assim, porque é que você vai esperar a ligação dele e não a minha?

-Desisto!

-Do quê?

-De tentar te explicar! Você não entende! É um paranóico! Bem que tinham me falado que você era esquisito! Mas eu disse que não, que devia ser tudo intriga! Agora eu estou vendo! Você me deixou super nervosa, tá ouvindo! Pelo bem do nosso namoro, me prometa que você vai parar de ficar me ligando! Depois a gente conversa, tá bom? Promete?

-Prometer o quê? Desculpa! Eu estava prestando atenção na televisão que estava ligada. Tá passando um desenho animado super legal! Você ia a-do-rar amor! Amor? Amoooor?


5 minutos depois (secretaria entra na sala de reunião avisando que alguém precisa falar urgentemente com a Eliane pelo telefone. Assunto importante).


-Alô?

-Amooorrr!!!

-Ah não César! Ah não!

-Eu te liguei no celular, mas ele estava desligado! Acabou a bateria?

-Fui eu que desliguei!

-Mas porque isso?

-Você está de piada não é? Isso só pode ser gozação!

-Como é que é? Não entendi!

-Porque é que você me ligou agora, afinal de contas?

-Eu fiquei preocupado. Você parece muito nervosa. Esta reunião deve estar acabando com você não é?

-A reunião está ótima... Se não fosse você, ela estaria melhor ainda!

-Ô... Tadinha! Está com saudades minhas, não é? Por isso não consegue se concentrar direito! Ainda bem que eu liguei! Minha intuição não falha!

-Sua intuição é ótima! Pena que seu “simancol” não é assim também!

-“Si” o quê?

-César, escuta aqui: acabou ok?

-A reunião?

-O namoro!

-De quem?

-O nosso!

-Como?

-O nosso namoro acabou!

-Ai meu Deus! Não me diga uma coisa dessas! Eu vou passar mal Eliane! Não faz isso comigo Eliane!

-Desculpa César! Mas você não tem noção nenhuma!

-Noção de que? Seja lá de que for, eu consigo, eu aprendo a ter! Me perdoa! Você deve estar com a cabeça confusa por causa da reunião!

-A reunião não tem nada a ver com isso, acredite!

-Tem sim... É você que não percebe! Esfria a cabeça meu amor! Logo você vai se sentir melhor!

-Eu não preciso esfriar a cabeça!

-Precisa siiiim!

-Não preciso de porra nenhuma!

-Precisa, precisa, precisa e precisa!

-Tchau César!

-Ei... Amor? Amooorrr? Droga... Caiu a ligação!

Balanço 5

E cá estou eu de volta.

Em primeiro lugar, agradeço aos inúmeros visitantes que me brindaram com suas presenças nestas primeiras semanas do ano. Eu estava achando que ia demorar pro pessoal voltar a freqüentar isso daqui, mas vi que felizmente estava enganado. Valeu mesmo gente. Eu sei que eu sou sensacional, mas não custa nada agradecer, não é (isso foi uma piada, ok?)?

Graças a minhas férias da faculdade, tive um bom tempo para virar este blog do avesso. Li, reli e refleti sobre muitas das babaquices que escrevi ao longo de 2007. Admito que gostei do que vi. É no mínimo interessante observar as mudanças de conduta e as sutis melhorias que fui implementando aqui ao longo do tempo. Mais interessante ainda é constatar que, apesar das melhorias, no geral ainda continuo uma bosta (hehehe).

A propósito: dentro de duas ou três semanas esta espelunca estará de aniversário. Estou bolando uma programação especial em comemoração. Quer dizer: estou tentando bolar algo. Melhor ainda: não tenho a mínima idéia do que vou fazer. Aceito sugestões.

Aos interessados, digo que o ano começou muito bem. Sem grandes novidades, mas repleto de momentos agradáveis. Deu tempo até de fazer planos pro futuro. Não sei quanto a vocês, mas já fiz minha planilha de metas para 2008. Dessa vez não fui ousado demais: no topo da lista estão “dar uns pegas” na Angelina Jolie (faz pelo menos cinco anos que estou tentando) e ganhar na mega-sena acumulada. No resto eu dou um jeito.

Ah sim: aceitando a sugestão de um velho amigo (né Anderson?), resolvi contar quantas vezes vou ser chamado pelo adjetivo de palhaço neste ano. Abri a contagem logo após o réveillon. Até agora já ouvi esta gentileza 16 vezes, o que eu considero uma média respeitável para um trocadilhista infame como eu. No fim de 2008 eu prometo trazer as estatísticas finais.

Outra coisa que me chamou a atenção foi uma “acusação” (no bom sentido) feita por uma amiga (né Simone?) de que eu supostamente estaria sendo machista em minhas crônicas. Segundo ela, as mulheres sempre se dão mal nas histórias. Defendi minha teoria de que eu tento manter um relativo equilíbrio, mas ela está irredutível. No fim das contas, combinamos que tentarei ser mais cuidadoso em relação ao assunto (ou seja: vou sacanear mais os homens), e já planejamos inclusive uma postagem conjunta aqui, sobre o mesmo tema. Só não sei a data.

Mas que fique bem claro: eu amo as mulheres. Sou um feminista convicto (vejam bem: eu disse feminista, não afeminado, ok?). Acho que toda mulher pode e deve fazer o que quiser... Desde que já tenha terminado de cozinhar, lavar a roupa, limpar a casa e etc, etc, etc... (eu juro que isso é só mais uma piada, ok?)

É isso pessoal. Volto em breve, eu acho. Pelos meus cálculos, logo aí em cima terá uma postagem novinha em folha. Torturem-se... Opa... Ou melhor: divirtam-se!

Um beijo no cérebro!