segunda-feira, 30 de abril de 2007

O último dia

Estava tarde, passava das duas da manhã. Carlos, com sempre fazia, rumava para a cama depois de mais um longo dia de trabalho. O humor, como sempre, não era dos melhores. Se sentia explorado, e estava cansado disso. No escritório era quem mais trabalhava, e quem menos era reconhecido pelo seu esforço. Sempre tinha sido assim. Já tinha perdido a conta das vezes em que toda a sua dedicação tinha sido posta em segundo plano para valorizar as virtudes de outras pessoas, que a seu ver, nunca tinham chegado sequer aos seus pés. Seus pais sempre tinham dado mais atenção ao seu irmão mais velho do que a ele. Seus professores nunca lhe davam ouvidos. Seus colegas fizeram dele uma espécie de fardo, que carregavam para todo lado mesmo sem dar muita bola. A vida tinha sido cruel com Carlos. Vivia solitário, numa casinha pequena que tinha alugado, sem muitas perspectivas de um futuro animador, nem amigos.

Tinha feito hora extra. Estava cansado. Certamente não receberia nem um tostão a mais pelo esforço e muito menos o reconhecimento de seu chefe tirano. A frustração escorria pelos seus poros, podia sentir. O melhor que tinha a fazer era dormir, para ver se o seu sono seria capaz de apagar de vez aquele sentimento de derrota. Amanhã, tudo seria diferente.

Mantinha os olhos fechados. Se esforçava para esvair de sua mente os pensamentos ruins que lhe atormentavam por todos os lados. Só assim conseguiria repousar. O sono estava quase lhe batendo à porta quando um calafrio repentino percorreu toda a extensão de sua espinha. Abriu os olhos repentinamente, assustado. E eis que para seu espanto ainda maior se deparou com uma figura que lhe deixou em pânico: uma moça jovem, bonita, vestida com um grande sobretudo preto entreaberto, de onde se podia enxergar, mesmo que casualmente, sua silhueta bem definida. Seria uma visão das mais lindas em outras circunstâncias, mas naquele caso, Carlos se assustou. Como tinha entrado, o que fazia ali? Perguntas diversas pipocavam na cabeça do rapaz, que sem ação, apenas levantou as cobertas como se tal recurso lhe servisse de escudo.

A moça continuava ali, estática, observando a cena. Um sorriso daqueles de canto de boca sobressaía-se em sua expressão. Os dois grandes olhos negros que contrastavam com o resto de seu rosto claro, quase pálido, fitavam cuidadosamente a ação de Carlos. Este por sua vez continuava perdido, sem saber ao certo qual atitude tomar.

-Não se assuste!

A voz da garota ecoou pelo quarto. O timbre era grave, seguro, e passou confiança ao homem que tentava se esconder por debaixo das cobertas.

-Que... quem é você?

-Uma amiga!

-Eu não tenho amigos!

-Ok...

-O que quer de mim? O que está fazendo no meu quarto?

-Calma... uma pergunta de cada vez! Bem... essa parte de explicar é sempre a mais chata! Em síntese, posso dizer que vim levar você!

-Levar? Levar pra onde?

-Ah... você sabe! Levar... entende? Levar pro “outro mundo”!

Carlos entrou em pânico.

-Você vai me matar?

-É... tecnicamente sim! Na verdade não é bem isso, mas à grosso modo, posso dizer que eu vou te matar sim! Tomara que os seus advogados não me ouçam! Hahahahaha

A moça gargalhou sozinha, achando graça da própria piada, enquanto o rapaz lhe observava atônito, num misto de pavor e impotência. A casa treme inteira.

-Olha... pode levar tudo, ouviu? Minha TV, meu computador, meu salário que está na gaveta de estante... só que, por favor, não me mate!

-Qualé cara? Não me subestime! Seus pertences não me interessam!

-Então o que você quer aqui afinal de contas?

-Já disse! Vim pra te levar comigo!

-Você é uma serial killer né?

-Larga mão de ser burro! Se eu fosse uma serial killer sua cabeça já estava longe do seu pescoço no instante em que você me viu!

-Então porque que é que você quer me matar?

-Querer eu não quero. É o meu emprego. Eu apenas cumpro ordens!

-Ordens? De quem? Olha... seja lá quem for que eu irritei, e que quer me matar, diga que eu me arrependo e que se eu vou ficar de bico calado!

-Já te disse que essa não é a questão. Você tem que morrer e pronto! Não existe solução... sua hora chegou!

-Ta! Peraí: quem é você afinal de contas?

-Você que saber que sou eu? Hehehehe... essa é sempre a melhor parte!

A moça, visivelmente empolgada, dá dois passos para trás, muda as feições até então simpáticas para um ar mais sombrio, da uma pigarreada para calibrar o tom de voz ideal e exclama sombria:

-Eu sou a Morte!

Carlos não se surpreende.

-Morte? Conta outra!--Retruca Carlos, incrédulo.

-Porra! Eu me produzi inteirinha, ensaiei por milhares de anos consecutivos, pra um cara como você desdenhar da minha cara? Isso é frustrante!

-Pare com esse papo e me diga quem é você, antes que eu me irrite e acabe te machucando!

-Hahahaha... você? Me machucar? Essa foi a melhor piada da noite! Hahahaha

-Pare com isso! Eu to avisando!

-Escuta aqui: eu sou a Morte sim, ta sabendo? Ta surpreso com o que? Como achou que eu era? Parecida com a Carmem Miranda?

-Isso é lenda!

-Lenda o cacete! Porra... a gente trabalha desde o princípio da humanidade e nem assim é reconhecido! Devia ter ficado no serviço burocrático!

-Sai daqui! Me deixe em paz!

-Não adianta ficar de birra. Sua hora chegou! Resistir é inútil!

-Você quer mesmo que eu acredite que você é a Morte?

-Não precisa acreditar... só colabore comigo! Daqui a meia hora vai ter um acidente de carro do outro lado da cidade e eu preciso estar lá!

-Isso é loucura!

-Não Carlos! Não é loucura!

-Você sabe o meu nome!

-É claro que eu sei! Como é que você acha que eu descubro quem devo matar? Pelo cheiro?

-Eu estou ficando assustado!

-Não se assuste! Vai ser até bom sabia? As coisas lá no paraíso serão bem mais divertidas do que são aqui! Esse mundo está perdido sabia? Nunca trabalhei tanto... e dizem que o chefe já falou que do jeito que as coisas andam, isso daqui não vai durar muito não!

-É? Bem... eu estou surpreso! Sempre imaginei que você, a Morte, seria diferente!

-Eu era... usava um vestidão preto com um capuz grandão. Era o uniforme. Nem dava pra enxergar a minha cara! Usava uma foice também... mas isso foram em outros tempos!

-E porque mudou?

-Tudo evolui né? Sei lá... aquílo estava meio primitivo demais! Quem é que usa foice hoje em dia? Ninguém! Foi por isso que eu aderi a injeção letal! Fácil, rápido e limpo! É mais contemporâneo, sacou? Além disso eu evito a gritaria do pessoal. Aquela foice assustava muito!

-Injeção letal?

-Só simbolismo! O regulamento exige que eu use algum tipo de “instrumento letal”. Não sou eu quem faço as regras... se eu quiser é só eu dizer “morra”, que a pessoa desencarna imediatamente!

-E porque você não faz isso direto, ao invés de usar a injeção?

-E onde está a poesia nisso?

-Em nenhum lugar, eu acho!

-Pois é... tenho uma reputação a zelar!

-Mas eu sou jovem demais! Mal cheguei nos meus tempos áureos!

-Seus tempos áureos já se foram. Faz tempo!

-Poxa... não é justo! Eu sempre tentei ser um cara legal! Porque é que você não vai atrás do Bush? Ele sim devia morrer!

-A hora dele ainda não chegou. Infelizmente! Quando ele morrer vou tirar férias! Ficarei um bom tempo sem ter trabalho depois que ele se for desse mundo! Mal vejo a hora que isso aconteça...

-E eu tenho como recorrer a isso? Tenho uma segunda chance? Sei lá... deve ter algum tipo de recurso!

-Iiii... sai dessa! Essa história de segunda chance é baboseira!

-Mas eu li que...

-E você acredita nisso? São os escritores que ficam inventando essas mentiras! Odeio esses caras... quem lê esses trecos acha que eu sou lesada! Ninguém valoriza o meu trabalho!

-Mas...

-E quer saber o que é o pior? Os caras que fazem filmes! Tem um tal de “Premonição” que diz que eu deixei escapar uma porção de gente que tinha que morrer numa explosão de um avião! Onde já se viu? Isso é uma piada! Ninguém foge de mim, ouviu bem? Ninguém!!

A casa de Carlos treme completamente.

-Calma... não precisa gritar!

-Desculpe! Mas é que essas situações me deixam puta da cara, entende?

-Acho que sim... é mais ou menos como eu me sinto!

-Ah é?

-É sim! Nunca ninguém me dá valor! Meu chefe por exemplo: vive pisando em mim... trabalho feito um louco, estudei feito um condenado, e ele prefere promover um mauricinho idiota que é puxa saco dele!

-Sério? Que pilantra!

-Pior que é sério! E não é de agora não: meus pais também sempre me subestimaram... acho que eles acharam que eu nunca conseguiria ser ninguém na vida! O pior é admitir que, no fundo, eles estavam certos!

-Não diga isso não! Você é um bom rapaz!

-Não sou não! Nunca tive amigos... amigos de verdade sabe?

-Caramba!

-Também nunca tive namorada! O mais perto que eu já cheguei de uma mulher bonita foi de você!

-Xiiii! Só lamento! Nem mulher eu sou!

-Mas você é igualzinha a uma... e das boas!

-Pois é... mas isso é tudo maquiagem! O pessoal achou por bem colocar uma cara mais simpática em mim, entende? Até a Morte tem que ser pop. A concorrência é desleal hoje em dia!

-Sei!

-Poxa cara... que triste sua história!

-Realmente é triste! Nunca fui valorizado!

-Quer saber o que você devia fazer? Sair dessa neura! Tem que deixar essa vida miserável de lado e ir à luta, entende? O mundo está cheio de boas oportunidades por aí esperando por pessoas esforçadas!

-É?

-É sim! Eu ando muito por aí, como você deve imaginar, e sei do que estou falando! Para começar, você devia dar uma repaginada no visual, sabe? Saia por aí, paquere umas gatinhas! Ser autoconfiante faz bem! Deveria ter mudado de emprego, ido atrás de novos horizontes! Camarão que dorme a onda leva!

-É verdade... pensando bem, acho que eu devia ter sido mais ousado!

-Pois é! Mas nem sei porque é que estou te aconselhando! Afinal de contas, você vai morrer daqui a pouquinho! Hahahaha

-Então quer dizer que esse foi o meu último dia?! Os últimos momentos da minha vida foram fazendo hora extra no trabalho! Quer saber? Na verdade você está me fazendo um favor! Ainda bem que apareceu!

-Gostei de ver! Tem que ver isso com otimismo!

-Lá no céu finalmente serei valorizado! Depois de todos esses anos, terei meu valor reconhecido!

-Claro que sim!

-Mal vejo a hora! Vamos dona Morte! Estou pronto! Pode me levar!

-Ok... Lá vou eu!

A Morte tira de dentro de seu sobretudo um tubo transparente com uma longa agulha. Era a injeção letal, o novo recurso que veio para substituir a já ultrapassada foice. A hora de Carlos, o jovem Carlos, finalmente tinha chegado. As feições da carrasca tinham mudado novamente. O aspecto sombrio de sua face tinha voltado, e com uma voz cavernosa, ela proclama o derradeiro veredicto, sob o olhar atento e ansioso do réu.

-Eu, a Morte, declaro que é chegada a hora de você, a quem os demais humanos chamam de Carlos Euclídes Timério, partir desse mundo!

-Tibério!

-Como?

-Meu nome é Carlos Euclides Tibério, não Timério!

-É?

-É sim... mas não tem problema, todo mundo erra! Pode continuar!

-Peraí!

De dentro de seu sobretudo, a Morte retira um "Palmtop". Outra evolução tecnológica implementada em sua profissão. Concentrada, mexe no aparelho durante alguns instantes, sob o olhar impaciente de Carlos que não entende a situação. O inconformismo da carrasca era visível.

-Droga! Odeio quando isso acontece!

-O que foi?

-Eu errei!

-Errou?

-Sim... o Carlos que eu tenho que levar mora do outro lado do país! Aquele já passou dos 80 anos. Eu ainda não me acostumei com esse sistema. Nos tempos do pergaminho eu não errava uma sequer. Droga! Essa porcaria de tecnologia está acabando com a minha reputação!

-Então quer dizer que...

-Você está livre! Sua vida ainda vai durar bastante!

-Mas...

-Não tem "mas" cara! Não é você e pronto!

-Tem certeza que não tem como você me levar junto?

-Se liga! Você tem uma vida inteira pela frente!

-Mas eu sou tão infeliz!

-Aí já não é o meu departamento!

-Me leva, vai? Se quiser eu me mato!

-Ta maluco? Eu já trabalho feito uma louca e você ainda quer me dar mais tarefas? Já não agüento mais fazer hora extra! Eu to te avisando! Se você se matar eu te mato, seu pilantra!

-O que eu posso fazer?

-Viva, cara! Não tem outra alternativa. Lembra dos meus conselhos?

-É... acho que sim!

-Vá à luta! Tem muita coisa pra acontecer na sua vida... e coisas boas! Procure as pessoas que te valorizam, e seja feliz!

-Esse papinho é meio clichê né?

-E quem falou que a Morte é original? Minha função é levar as pessoas, não dar conselhos!

-É... acho que você está certa!

-É claro que estou! A Morte não erra. Quer dizer... eu errei hoje, mas não fui por culpa minha, você viu, né? Foi o Palmtop! Foi o maldito do Palmtop!!!!

-Ok, ok! Não precisa gritar, por favor... a casa está tremendo inteira!

-Desculpe! Eu tenho que ir viu? Tenho muito trabalho a fazer ainda!

-Ok! Foi um prazer te conhecer viu?

-Imagina... o prazer foi meu!

-A gente se vê por aí?

-Com certeza! Afinal de contas sua hora vai chegar um dia! Hahahahahahahahaha

A gargalhada sinistra faz com tudo trema, como em um terremoto.

-Podia rir mais baixo? A casa ainda está tremendo!

-Desculpe!

-Ei, antes de ir... posso te fazer uma pergunta?

-Claro!

-O Elvis morreu?

-Hehehe... a morte jamais revela seus segredos!

E eis que a moça desaparece diante dos olhos de Carlos.

Moral da história: tome cuidado ao ler os nomes completos das pessoas. Você pode matar a pessoa errada.

sábado, 28 de abril de 2007

Uma senhora blogueira

As pessoas em geral tem uma mania chata de tentar colocar tudo dentro de rótulos pré definidos. Isso me irrita. Todos tem que seguir lógicas e regras intrínsecas, que não são lei, mas valem tanto quanto uma delas. Confuso? Pois bem, explico melhor: quantas vezes você já ouviu a ladainha de que “fulana é nova demais pra namorar ciclano”. Essa é clássica. Não existe lei nenhuma que proíba uma mulher mais jovem de namorar um homem vários anos mais velho e vice-versa, mas mesmo assim, tal prática é vista com um certo preconceito por todos. Esses consensos, que se espalham por entre as entranhas da sociedade, estão de tal forma alojados dentro de nós, que as vezes nos vemos escandalizados com atos alheios que nem ao menos devíamos questionar.

Sou um daqueles caras à favor do livre arbítrio. Cada um faz o que bem entender, desde que não viole as regras fundamentais que norteiam nossa sociedade. Não sou um anarquista, apenas gosto de seguir a filosofia do “cada um com seus problemas”. Se sua atitude lhe faz se sentir bem, e não influencia negativamente o bem estar alheio, então porque não fazer? Os preconceitos que se danem. O importante é ser feliz sem ligar para o que os outros pensam.

Pois bem: toda essa minha filosofia barata de botequim (e olha que eu nem bêbado estou), foi só para dar suporte à descoberta de uma informação que me deixou extremamente satisfeito. Se estiver certo, você também vai se surpreender.

Olive Riley é uma australiana que vive em um asilo de sua terra natal. Até aí tudo bem. O interessante na história, é que essa “moça” tem 107 anos de idade e, pasmem, um blog que atualiza constantemente. Chocante não?

A pergunta (que certamente você deve ter feito) é a seguinte: ela não está velha demais para ter um blog? Pelo visto não. Com a ajuda de um dos funcionários da casa de repouso onde vive, Olive mantém o www.allaboutolive.com.au ativo, à espera da curiosidade de internautas do mundo inteiro. A iniciativa foi um sucesso. Depois que a existência de seu site foi divulgada pela imprensa, o número de visitantes chegou à proporções capazes de fazer o mais popular dos blogueiros ficar com inveja.

Acessei o espaço na semana passada para conhecer melhor o “cantinho” que Olive mantém na rede. Experiência gostosa. Não existe nada de muito empolgante no blog, porém tudo é muito simpático e bem organizado. Comparando à grosso modo, é quase como uma “casa da vovó” virtual. As postagens são curtas, e existem fotos antigas por todo lado. Como o meu inglês não é lá essas coisas, não posso fazer uma análise das mais eficazes em relação aos textos da moça. Mesmo assim, a visita valeu a pena. O simples fato de conhecer alguém que não liga para a afirmação de que “fulana é velha demais para fazer tal coisa”, é algo raro, e digno de destaque.

A parte chata da história é que tentei visitar o blog hoje e não tive sucesso. Pode ser que tudo não passe de um problema técnico, e que depois de algum tempo ele volte à funcionar normalmente. Pelo sim ou pelo não, deixo o link aqui. Vale a pena conferir a disposição dessa blogueira, que não está nem aí para o que os outros pensam.

E você? Está se achando velho demais para fazer certas coisas? Melhor rever seu conceitos.

Olive Riley e seu blog: confissões de uma jovem senhora de 107 anos.

domingo, 22 de abril de 2007

O sexo do brasileiro

Saiu essa semana no jornal. Ou melhor: no jornal, na TV, na internet e no rádio. O brasileiro é o segundo colocado no ranking mundial dos povos que mais praticam sexo no mundo. Só perdemos, quem diria, para os gregos (ler matéria no site G1 clicando aqui). Segundo a pesquisa, os brasileiros praticam “as vias de fato” duas ou três vezes por semana, 154 vezes por ano, com uma média de 21 minutos por relação. É sexo para estrangeiro nenhum botar defeito.

Entretanto, essa mesma pesquisa apresentou um dado interessante. Se somos o segundo do ranking no quesito quantidade, no ponto de vista da qualidade somos considerados “medíocres” (matéria completa pode ser lida clicando aqui). Apenas 42% dos participantes da tal pesquisa afirmaram estar satisfeitos com sua vida sexual. Ou seja: menos da metade dos entrevistados.

A imprensa bem humorada fez a festa com os dados. Piadinhas e tiradinhas sarcásticas não faltaram na mídia do país inteiro. Cheguei a ver uma enquete num site perguntando quem mentia mais: o brasileiro, ou o grego.

Dá pra imaginar?


-Ué... já acabou?

-Já sim! 23 minutos contadinhos... até passei do ponto!

-Mas estava só começando a ficar gostoso!

-Eu sei... mas tenho que manter a média nacional!

-E custa tentar superar a marca?

-Custar não custa, mas o jogo já esta começando e você não vai querer que eu perca meu futebolzinho, né?

-Eu to carente amor...

-Eu já fiz a minha parte!

-Mas eu não me satisfiz!

-Nem eu... aliás desde que nos casamos, satisfação é algo raro nas nossas relações!

-Ô meu bem... vamos apimentar nosso amor, vamos?! Eu sei que aí dentro desse seu pijama ainda se esconde o mesmo fogo do tempo em que nos casamos!

-Você viu onde está o meu chinelo?

-Ei... lembra do que me falou no dia em que a gente se casou, antes da nossa primeira noite de amor?

-Como assim primeira? Nossa primeira vez foi no banco de trás daquele Chevete no aniversário do seu vô e...

-Eu falei da primeira vez depois de casados!!

-Ah ta...

- E então, lembra do que me disse?

-Lembro...

-O que foi?

-Disse que ia transar contigo até não sobrar mais nada! Que íamos fazer amor até eu te deixar só no bagaço!

-É... isso mesmo! Que memória boa...

-Pois é!

-E agora? Me olhando aqui, 26 anos depois, completamente nua, deitada na sua cama olhando pra você... o que tem a me dizer?

-Missão cumprida! Eu realmente acabei com você!

-Aiiiiiiiii!!!

-Vou fazer o que Matilde? O tempo passou!

-Mas bem que você podia ser mais esforçado, né?

-Só Deus sabe o esforço que eu faço essas três vezes por semana! Minha coluna já foi pro pau faz tempo!

-E a culpa é minha agora?

-Não... imagina! A culpa é do seu sedentarismo!

-Aiiiiiiii!!

-Cadê o meu chinelo Matilde?

-Olha... se é tão ruim assim, se eu sou tão ruim de se aturar, porque é que você ainda faz questão dessas transas três vezes por semana?

-Porra Matilde! O brasileiro tem uma reputação a zelar! Somos vice-campões mundiais na quantidade de sexo!

-Quer saber? Chega! Você é um insensível! Teremos greve de sexo a partir de agora!

-Você não resiste Matilde, eu te conheço... onde é que está o meu chinelo, hein? Que droga!! O jogo já está começando!

-Resisto sim... aliás eu já não me satisfaço com você faz tempo!

-Conta outra Matilde... se fosse tão ruim você não estava aí choramingando, pedindo mais!

-É ruim sim... bem ruim! Aliás você já não está lá essas coisas faz tempo, viu?

-Peraí, peraí, peraí! Não venha com baixaria agora! Acha que eu não escuto os seus gritinhos enquanto eu estou...

-Tudo fingimento!

-Poxa Matilde! Não vem com essa história agora! Eu sei que você gosta!

-Você viu o meu roupão por aí?

-Não muda de assunto... vem cá, me explica esse papo de fingimento!

-Outra hora Agenor... minha novela já vai começar!

-Larga mão Matilde! Fiquei curioso agora... me explica direito essa história!

-Ei! Você sabe onde é que esta o telefone do Nikos?

-Nikos? Aquele meu amigo grego que vinha nos visitar de vez em quando?

-Sim...

-Porque é que você quer o telefone dele?

-Por nada... deu saudade! Acho que vou convidar ele pra vir jantar aqui em casa qualquer dia desses!

-Pra que?

-Sei lá... quero conhecer de perto um campeão mundial!

-Matilde... escuta aqui Matilde! você está me sacaneando! Isso não se faz Matilde!

-Calma benzinho... o seu jogo já não começou não?

-Deixa pra lá... é só a primeira partida da final, nem é tão importante!

-Então ta!

-Amoooorrr...

-Anh?

-Vamos voltar pra cama terminar aquílo que tínhamos começado?

-Ué? Pra quê?

-Ah... me deu vontade!

-Acho que não!

-Ahhh Matilde! Eu to afim...

-Sabe o que é Agenor? De repente me deu uma dooooorrr de cabeça...


Eis tudo.

sábado, 21 de abril de 2007

8 Bits, o retorno

Ganhei meu primeiro vídeogame quando tinha uns 7 anos. Lembro da cena direitinho. Meu pai, dentro do mercado, olhando pra minha cara de cachorro sem dono enquanto eu babava em frente a um Nintendo de 8 bits, que segundo a vendedora, era o supra-sumo do entretenimento virtual. Deve ter sido por pena, mas ele resolveu me fazer um agrado. Desembolsou R$130,00 (nos tempos em que o Real ainda mantinha uma certa paridade com o Dólar), e levou aquele pequeno pedaço de sonho pra casa.

Foram bons tempos. Tinha apenas duas fitas: Super Mario 2 e 3. Não precisa de mais nada. Perdi as contas das tardes perdidas em frente aqueles desfiladeiros virtuais. Nunca me enjoava das aventuras. Quer dizer: eu achei que nunca me enjoaria. Depois de um tempo de fracassos contínuos em certas fases, fui me frustrando e deixei de lado o velho controle de apenas dois botões de comando. Além do mais, já tinha surgido na praça o Super Nintendo, um novo videogame de 16 bits que vinha com a promessa de ser muito mais rápido e muito mais divertido que o meu velho console.

Anos mais tarde, depois de ter experimentado os extremos da tecnologia de entretenimento virtual, me deparei com uma revelação que quase me fez ter um infarto de alegria. Descobri um site que dá para o internauta a oportunidade de matar as saudades do velho console de 8 bits. Trata-se do nintendo8.com, site que permite jogar todos (eu acho) os títulos criados para o velho videogame. Está tudo lá: Mário, Zelda, Tartarugas Ninja, Batmam, CastleVania...

Passei uma tarde das mais felizes matando as saudades. Mesmo tendo a disposição o Playstation 2 do meu primo aqui em casa, é difícil esconder a fascinação que aqueles joguinhos despertam na gente. É tudo tão simples, mas ao mesmo tempo tão magnético... difícil explicar.

Para quem compartilhou de minhas experiências fica a dica. Já para quem nem ao menos sonhou que isso já existiu, vale a pena dar uma xeretada no site, nem que seja só pra sacanear a velha trupe de gamers.

Falando em velha trupe, agora é que parei pra pensar: poxa vida... como eu estou velho. E pensar que eu já joguei no Nintendinho 8 bits original! Caramba... defintivamente, o tempo passa!

Nintendo de 8 bits: de top de linha da tecnologia à artefato de museu. Saudades velho companheiro...

domingo, 15 de abril de 2007

O beijo

Aconteceu na última sexta-feira:

-Amor?

-Diga...

-Hoje é o dia do beijo sabia?

-Ah é?

-É sim...

-Que legal...

(...)

-Amor?

-Sim?

-Você já tinha beijado muitas mulheres antes de me beijar?

-Ah... sei lá! Depende do que você chama de muito... mas acho que nem vale a pena tocar nesse assunto!

-Ah não... pode falar! Eu to curiosa... prometo que não vou me irritar!

-Promete mesmo? Sabe como é que é... pode rolar um ciuminho básico, sabe?

-Imagina... eu sou uma adulta Arnaldo. Adulta emancipada! Não vou ficar com ciúme nenhum, prometo!

-Ok... se você ta dizendo... o que quer saber?

-Sei lá... me fale como foram seus primeiros beijos... quais os melhores! A gente é casado a quase 10 anos e nunca conversamos sobre isso!

-Bem... meu primeiro beijo foi com uns seis anos e...

-Seis anos??

-Sim, seis!

-Como você foi precoce... como é que foi?

-Foi bom! Com uma prima... a Cidinha sabe?

-O que? A Cida? A Cidinha puritana?

-Sim, porque?

-Porra... ela chegou a virar freira depois, né Arnaldo?! Você não tem vergonha?

-Ei... a gente tinha seis anos, lembra?

-Isso não muda nada!

-Como não? Ouviu o que eu disse? Foi antes dela sequer pensar em virar freira... inclusive ela desvirou depois!

-Como você foi canalha! Justo com ela! Bem com ela que eu nunca simpatizei! Não esperava isso de você...

-Pelo amor de Deus Alice... pára com isso! Sem drama!

-Garanto que não ficaram só no beijo!

-A gente tinha seis anos, porra!!

-Não grita comigo!

-Então não surta... a gente era criança, não sabia direito nem o que tava fazendo!

-Ela não devia saber mesmo, isso eu garanto, mas você devia saber muito bem! Eu te conheço!

-Eu não sabia nem amarrar o cordão do tênis direito...

-Pois é... mas você aprendeu na prática, né? Assim como deve ter aprendido um monte de coisas com ela!

-Não seja burra!

-Burra Arnaldo? Você fala na minha cara que beijou sua prima que foi freira, e não quer que eu reaja?

-Escuta, você é doida ou o que? A gente tinha seis anos, foi o meu primeiro beijo... meu não, nosso!! Não teve malícia nenhuma, a gente tava só se conhecendo!

-Engraçado... no meu tempo, quando eu ia conhecer um primo, um “oi, tudo bem? Você gosta do que?”, já bastava!

-Eu não acredito que isso ta acontecendo...

-Quem não acredita sou eu... estive casada por todos esses anos com um homem que eu mal conhecia!

-Não foi você que perguntou qual tinha sido meu primeiro beijo? Insistiu na resposta, aliás! Pois é: eu só respondi!

-É, acho que sou burra mesmo. Se tivesse te perguntado isso antes, talvez nunca tivesse ficado com você!

-Ah, é assim então? Quer dizer que tudo o que a gente construiu em todos os esses anos de namoro e casamento não serviu de nada? Nossa casa, nossos filhos, nossa vida feliz não valeu de nada?

-Arnaldo... você beijou sua prima feira! Como é que você quer que eu me sinta?

-Alice... eu tinha seis anos, ela também! Foi o nosso primeiro beijo!

-Mas puxa... justo com a Cida?

-É né, fazer o que? Aconteceu!

-Se fosse com outra menina eu até entenderia... mas nunca fui com a cara da Cida! É difícil pra mim assimilar isso, entende?

-Mais ou menos... mas se te serve de consolo, aquela foi a única vez que eu beijei ela! Depois disso nunca mais! E foi beijo de boca fechada e tudo...

-Ah... isso não muda nada, né espertão?

-Muda sim... claro que muda! Quer beijo mais bobo que beijo de boca fechada?

-Ela era freira Arnaldo!

-Ela virou freira depois Alice! Puta que pariu!!

-Não fala assim comigo!

-Ta... desculpe! Eu acho que você está exagerando mas vou respeitar sua opinião! Eu errei, e vou entender se ficar brava comigo por uns dias!

-Nem vem com esse papo... nossa relação está seriamente abalada!

-Isso já ta me enchendo o saco!

-Ei, peraí... qual foi a segunda pessoa que você beijou, hein?

-Ah... e você acha que eu vou te contar? Se você já surtou quando eu falei da Cidinha, imagine se eu te falar qual foi a outra!

-Porque? Ta preocupado com o que? Sabe que ta devendo, né? Quem não deve, não teme! Vai contar sim, e vai contar agora!

-Vou nada...

-Ah vai!

-Pra que? Pra você dizer que eu sou um canalha? Pra me acusar de ser um tarado mirim?

-Ela, essa segunda, é ou já foi uma freira?

-Não!

-Então você não tem com o que se preocupar! Vai, conta... preciso saber o nível das suas escolhidas!

-Tem certeza que quer saber? Não vai surtar agora?

-Tenho sim... fique tranqüilo... nada pode ser pior que a Cida!

-Então ta... meu segundo beijo foi quando eu tinha uns 8 anos, numa tal de Rafaela!

-Rafaela? Esse nome não me é estranho...

-Sim... sabe a Rafa?

-Quem? A Rafa? A “Rafinha boca de vulcão”?

-Sim!

-Eu não acredito! Como é que você pôde??

-Eu tinha oito anos!

-E com a Cidinha você tinha seis... garanto que com 10 você já freqüentava bordeis!

-Eu sabia que isso ia dar em merda... tinha certeza! Porque é que fui falar?

-Olha Arnaldo: eu não esperava isso de você, sabia? A Rafinha era a maior galinha da região e você ficou com ela! Isso é inadmissível!

-Como assim “ficar”? Deve ter sido o primeiro beijo dela! A gente era criança, mal sabia o que estava fazendo... se eu tivesse uns 15 anos, daí tudo bem! Estaria cheio de más intenções, mas eu era um pirralho!

-Hunf...

-Além do mais, você disse que beijar a Cidinha era o que poderia existir de pior! Com a Rafa então você nem deveria ficar tão chateada...

-Ah, me poupe! Foi tão ruim quanto... até pior se bobear! E pensar que eu ainda te dei mole!

-Quer saber? Vamos esquecer desse assunto?

-Não sei... eu estou muito chateada!

-Vamos sim... isso é ridículo! A gente se ama e é isso que importa! Quem eu beijei ou deixei de beijar ou quem você beijou, pouco me importa! O que importa é que estamos juntos agora, e nos amamos, certo?

-É... acho que sim! Mas isso me magoou sabe?

-Não era minha intenção! Além do mais, foi você que pediu para que eu contasse! Esse tipo de assunto a gente não comenta, né? Tudo pra evitar esse tipo de situação!

-É... pensando bem, acho que você tem razão!

-Então? Estou perdoado?

-Ta... tudo bem! Prometo que não toco mais nesse assunto!

-Que bom...

-Estou mais aliviada!

-Ei... já que fizemos as pazes, o que acha de darmos um beijo daqueles bem grandes pra selar nossa harmonia! E de quebra comemoramos o dia do beijo!

-Hehehe... ok!!

-Nossa amor... de todas as que eu já beijei você foi a melhor sabia?

-Aiiii... que fofo!

-É verdade! Você é o grande amor da minha vida e nada nem ninguém vai mudar isso!

-Como você é romântico! Sabe... é recíproco! Desde o dia em que eu conheci o amor, quando dei meu primeiro beijo em um dos meus colegas de sala, o Paulinho, nunca mais encontrei alguém que me fez tão feliz quanto você e...

-Ei... Peraí! Paulinho? Qual Paulinho?

-Um Paulinho... você nem deve conhecer ele!

-Eu tinha um amigo que se chamava Paulo, vulgo Paulinho... o apelido dele entre a gente era Zorba!

-Ah... então não deve ser o mesmo! O nome completo dele era Paulo More...

-Paulo Moreira Neto... era ele, o Zorba! Alice... você beijou o Zorba! Como é que você pôde?

-Eu nem sabia que vocês se conheciam... eu nem te conhecia! Como é que eu ia saber?

-Podia ser qualquer um Alice, menos o Zorba!

-Mas amor...

-Sem essa de amor! Você não pensou em amor quando ficou com o Zorba!

-Eu tinha 13 anos e nem te conhecia ainda!

-E você acha que isso muda alguma coisa?


Se serve de consolo, no fim tudo acabou bem. Não sem antes ambos acertarem um acordo mútuo de não proliferação de memórias românticas juvenis.

A paz finalmente voltou à reinar... não sem uma pontinha de desconfiança de ambas as partes.

O amor definitivamente é algo estranho.

Década blogueira

Já passou, mas vale a pena repercutir o assunto: dia 1º de abril foi comemorado aquele que é considerado o aniversário de 10 anos do primeiro blog já feito. Não é mentira não... podem acreditar. Lá, no primeiro dia do quarto mês de 1997 um cara chamado Dave Winer colocou na web o Scripting News, o precursor de muitos outros sites do mesmo gênero que, segundo estimativas, já passam dos 70 milhões em toda a rede mundial de computadores, entre os quais o meu.

Quem diria, hein?O que surgiu com a simples função de diário virtual, hoje em dia é tratado como um meio eficiente de difundir informações e idéias ao redor do mundo. Os jornalistas que o digam: atualmente, qualquer bom site de jornalismo on-line tem uma sessão exclusiva para blogs de jornalistas e figuras importantes que escrevem repercutindo as principais notícias, ou simplesmente jogando conversa fora com os leitores. Mais do que isso: podemos encontrar informações de utilidade e inutilidade pública, notícias, críticas de filmes e livros, entre outras maravilhas independentes. Tem gente que simplesmente ganha a vida escrevendo pra isso, arrecadando grana com os links patrocinados.

E pensar que no começo, quase todo blog se resumia a um amontoado de baboseiras escritas por garotas riquinhas que queriam “ter seu cantinho” na web. Quando soube da existência disso, jurei a mim mesmo que nunca teria um. Quebrei a cara. Felizmente alguém teve a brilhante idéia de usar essa idéia em favor do bom senso, e hoje em dia é tarefa difícil encontrar alguém que escreva com o simples intuito de aparecer pros amiguinhos. Peraí... será que eu não sou um desses tipos?? Não... acho que não!

De qualquer forma, escrevo para parabenizar meus colegas de web. Em tempos onde a tecnologia mostra tantas vertentes possíveis, ter um blog é uma forma interessante de se sentir no caminho certo do advento da informação, nem que seja só pra escrever porcarias sem nenhum conteúdo relevante como é o meu caso.

Viva nóis...

Scripting News, nosso "pai": o primeiro representante da blogsfera.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Cheirou, ta cheirado

E não é que meu blog me surpreende a cada dia? Na mesma semana em que fiz uma postagem elogiando uma banda inglesa da nova geração, os Artic Monkeys, Keith Richards, o lendário guitarrista dos Rolling Stones, concedeu uma entrevista onde entre dezenas de declarações bizarras, afirmou seu repúdio aos novos “rockeiros” de seu pais: "Todo mundo é um lixo” teria dito. Das duas uma: ou ele andou lendo meu blog, numa prova inexorável do prestígio meteórico alcançado por esse espaço em pouco mais de dois meses de existência, ou tudo não passou de uma daquelas coincidências convenientes que acontecem de vez em quando. É obvio que a primeira hipótese é muito mais provável. Sinal de que além de um escritor cretino, estou me tornando uma nova referência crítica do cenário musical.

Piadas à parte, o fato é que nem todo mundo tem paciência pra ouvir o rock inglês. Tem gente que fala que depois dos Beatles e dos Rolling Stones, tudo o que surgiu na terra da rainha não passou de nostalgia barata, uma tentativa frustrada de captar fragmentos do brilhantismo incontestável dessas duas grandes bandas. Pura maldade. O fato é que entre erros e acertos, tem muita coisa boa vinda da cena rock desse país.

Richards citou especificamente três bandas: Libertines, Arctic Monkeys e Bloc Party, três dos grupos musicais mais elogiados ao redor do mundo nos últimos anos.

O fato é que a declaração não surpreende. O guitarrista é um fóssil vivo, no bom sentido. Para quem viveu uma época áurea do rock, e inclusive serviu de influência para tudo que surgiu depois no cenário musical local, era de se esperar uma certa rejeição ao novo. Para ele, provavelmente, tudo parece ser pobre demais, superficial demais. Os mais “românticos” costumam dizer que o rock perdeu intensidade, força e espírito revolucionário, o que de certa forma soa como verdade.

Será que ele está certo? Difícil dizer. Gosto não se discute. Sou daqueles que defendem com unhas e dentes a teoria de que vale a pena valorizar e garimpar as rádios por aí à procura de novas esperanças. Para mim o rock ainda não morreu. Não até que me provem o contrário.

Em tempo: para quem não conhece, vale a pena conferir um pouco da história de Keith Richards. O cara é simplesmente uma das figuras mais emblemáticas que o rock n’roll já produziu. Brilhante como músico, criou tantos riffs de guitarra que é considerado um dos maiores “inventores” da história de tal recurso musical. Além disso, é um (anti) herói da resistência. Consumidor assumido e assíduo de drogas, até hoje ninguém entende como é que ele permanece vivo depois de tantas overdoses. Reza lenda que no início da década de 70 ele se submeteu a uma troca completa do sangue do seu corpo para sobreviver aos seus abusos com os narcóticos. Verdade ou não, imagino que ele é um exemplo terrível para os pais protetores desse mundo:

-Então é isso meu filho! Que bom que tivemos essa conversa. Nunca se esqueça disso, viu? As drogas matam... matam em pouco tempo, portanto cuide-se e afaste-se delas!

-Ta pai... mas e o Keith Richards? Pelo que você falou ele já devia estar morto!

-Bem... éeee... opa, olha só a hora filho! To atrasado, viu? Outro dia a gente conversa mais sobre isso! Tchau!

E pra completar o lado folclórico do guitarrista, essa semana ele saiu como destaque na imprensa do mundo todo depois de ter afirmando numa entrevista que tinha cheirado as cinzas do próprio pai misturadas com cocaína. Pouco tempo depois, sua assessoria veio à público afirmar que tudo não tinha passado de uma brincadeira. Verdade ou não, o fato é que o lendário músico somou mais uma boa história ao seu hall de causos bizarros. Se o cara falou, ta falado. No caso dele: cheirou, ta cheirado.

Um bom conselho é conferir essa matéria publicada no G1 com os melhores momentos da entrevista que ele concedeu recentemente a uma revista britânica. Lá está a polêmica das bandas, o caso das cinzas (a matéria específica sobre o caso pode ser conferida clicando aqui) e outras inutilidades interessantes a respeito do cara.

Passem por lá e aproveitem a “viagem”... no bom sentido, é claro.