domingo, 28 de janeiro de 2007

Literatura, filosofia... essas coisas!

Até que enfim. Várias semanas depois de meu último contato efetivo com um livro, finalmente voltei a ativa hoje. O trabalho incessante dos últimos dias vinha me impedindo de ter tempo e a disposição psicológica adequada para me engalfinhar por entre as linhas de alguma aventura literária. Não é frescura não. Leitura para mim é um ritual que exige calma, silêncio e estado de espírito adequado, o que nem sempre é possível. Hoje, finalmente o universo conspirou a meu favor e pude abocanhar uma obra que vinha paquerando a algumas semanas em minha estante. Trata-se do livro Entre Aspas, do jornalista Fernando Eichenberg.

Em primeiro lugar devo ressaltar que o livro foi um presente. Presente de amigo secreto. E ao contrário do que geralmente acontece nessas ocasiões em que você sempre recebe um par de meias, uma caixa de bombom ou um CD do Wando, dessa vez tive o privilégio de ganhar um livro, dos bons, muitíssimo bem vindo nessa época de entressafra literária, que só tem fim em meados de fevereiro, quando volto à faculdade e passo a visitar a biblioteca com maior freqüência.

Não conhecia o autor, tão pouco o conteúdo da obra. Entretanto, bastou ler o prefácio para ficar empolgado e fazer aflorar minhas melhores expectativas: trata-se de uma coletânea de entrevistas produzidas com figuras importantes do cenário artístico, político e intelectual francês. Muito embora não tivesse conhecimento de quem eram ou qual a relevância de 90% dos entrevistados, topei o desafio e passei a desvendar os meandros das entrevistas.

Começo difícil. O conteúdo é denso, intelectualmente pesado, e só tendo uma base meio que pré definida sobre qual a importância do entrevistado em questão, é possível desfrutar de todo o rico conteúdo contido ali. Felizmente o autor preocupa-se em apresentar uma introdução bastante interessante dos entrevistados, que se não é rica em detalhes, pelo menos nos permite ter uma base sólida de partida para que possamos apreciar com dignidade o conteúdo da conversa.

Ao terminar a leitura da primeira entrevista (Jean-Luc Godard, cineasta francês), percebi que precisaria de um tempo para digerir todo o conteúdo apresentado. Eram muitas informações, muitas opiniões e muitos conceitos novos para mim, que mereciam ser assimilados com calma. Partir de cara para o próximo “capítulo” seria um desperdício de conteúdo que não pretendia cometer. Enchi uma caneca com café, e voltei ao início da entrevista, munido de um interesse revigorado.

A parti daí, tomei uma decisão: leria, literalmente, um capítulo de cada vez. Iria me dedicar obstinadamente a cada entrevista, o que iria exigir tempo e paciência, virtude que não me é muito abundante. Sou daqueles que gosta de ler tudo de uma vez, “numa paulada só”. Mas, em virtude dos acontecimentos, decidi adotar esta postura mais estratégica, o que no fundo foi é até bom, já que poderei desfrutar da obra por um bom tempo.

Mas nem foi por isso que me motivei a escrever este devaneio. Me vi forçado a fazer uma rápida pesquisa na Internet (santo Google...), à procura de maiores detalhes sobre um dos entrevistados do livro: Jean Baudrillard. Trata-se de um polêmico pensador francês, que apresenta na entrevista (muito bem conduzida por Eichenberg, diga-se de passagem) uma teoria interessantíssima sobre o atual momento histórico da humanidade. Ele nos revela conceitos complexos, capazes de embaralhar sua cabeça (a minha pelo menos) durante algum tempo. Nem irei me atrever a tentar descreve-los. O fato é que a explicação que ele atribui a conceitos vigentes na sociedade atual, como a supremacia americana, são no mínimo perturbadores. A conceituação que ele faz do terrorismo e de suas implicações é digna de uma análise reflexiva de nossa parte. O fato é que se levarmos em consideração, e tomarmos como verdade boa parte do que Baudrillard nos diz, nos veremos habitantes de uma sociedade em decadência, que está entrando em um período histórico nebuloso e incerto. Uma visão assustadora e apocalíptica de um mundo que vê valores como a democracia e os direitos humanos serem aniquilados, ou pior, sendo usados como instrumento de dominação.

Não posso negar: leitura do texto mexeu comigo. Apesar de tanto ouvirmos teorias e possíveis soluções para a atual crise que a humanidade atravessa, a análise do francês consegue ser surpreendente, e, pasmem, tristemente coerente. No fundo a gente sabe que o que ele diz tem um fundo de verdade, o que é assustador.

Mais tarde ainda fui descobrir que o cara é autor de outras teorias ainda mais interessantes e complexas. Uma delas, a teoria da hiper-realidade (espécie de “realidade virtual” criada a partir dos meios de comunicação de massa), inspirou os irmãos Wachowski a criarem o filme Matrix. O curioso é saber que passei quase um ano estudando os efeitos que a comunicação de massa exercem sobre sociedade e nunca me dei conta que esta abordagem poderia ser possível. Depois de ler as opiniões de um único teórico, fiquei mais interessado no assunto do que em todo esse tempo de estudo. A “verdade” estava na locadora de vídeos e no livro do Eichenberg esse tempo todo e eu nem sabia.

Ainda estou deglutindo os efeitos filosóficos causados pela minha leitura matinal. Levando-se em conta minha “ampla” capacidade racional vou precisar de mais um tempinho de estudos a respeito do assunto. Se tudo correr bem, é provável que consiga ler mais uma entrevista do livro até a semana que vem. De qualquer forma, pelo pouco que vi, já me sinto mais do que confortável para afirmar que essa obra de Fernando Eichenberg, é uma excelente opção para quem gosta de ler uma boa entrevista. Vale a pena conferir.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Apresentações

Dizem que a primeira impressão é a que fica. No meu caso, essa foi uma regra que nunca me favoreceu. Sou do tipo tímido, daqueles que ruboriza até para dar um oi. Aliás, “ruborizar” é bondade de minha parte. Sou daqueles que fica vermelho sangue, parecido com um pimentão (dos vermelhos, é óbvio...). Na 5º série tive um professor que até tentou me apelidar de “tomatildo”, tentativa frustrada, felizmente.

O fato é que não sou bom para apresentações... nem todos tem paciência para dar tempo ao tempo e conhecer o verdadeiro José, escondido sobre uma grossa e espessa camada de vergonha. Esse talvez seja o meu ponto fraco, o que necessariamente não deixa de ser uma boa coisa, já que afinal, só gosta de mim quem me conhece de verdade.

Dito isso, acho que posso partir para as apresentações derradeiras: muito prazer, eu sou o José. José Luiz Sykacz, o feliz proprietário de um nome composto. Nome composto com sobrenome difícil. Sykacz. Se pronuncia “sicas”. José Luiz “sicas”. Já perdi as contas das vezes em que tive que dizer o nome completo e ouvi um “hein???” como reação imediata ao meu sobrenome...

-Nome?

-José Luiz.

-Sobrenome?

-Sykacz.

-Hein???

-Sykacz... s, y, k, a, c, z!

-S, y, k e o que?

-C, z...

-Ah tá... pronto seu José, assine aqui!

Ao me deparar com o formulário eu vi que ao invés de “Sykacz” a moça tinha escrito “Skaxcy”. Normal... mais comum do que parece. Tem um cara no meu trabalho, no setor de RH, que toda a vez que vou buscar um documento me faz a mesma pergunta.

-Seu nome é...

-José Luiz.

-Tá... José Luiz... José Luiz... aqui, achei! José Luiz Si... Si... como é que é?

-S, y, k, a, c, z! Se pronuncia “sicas”...

-Hahaha... que nome difícil, hein?

-Pois é...

-É estrangeiro?

-Polaco...

-Eu sabia... hahahaha! Tinha que ser polaco...

-Pois é...

-Tá aqui o documento. Assine aqui senhor... sii...

-Sykacz...

-Isso!! Eu sabia! Hahahaha

-Obrigado, viu?

-De nada Silva... quer dizer: “Siuca”... hahahahaha

E lá vou eu pelo corredor fingindo que achei graça. No mês que vem vai ser a mesma coisa, eu garanto.

Em contrapartida, se meu sobrenome é difícil, o mesmo não pode ser dito do meu nome: José, vulgo Zé. Podem me chamar assim, eu gosto. Pode parecer exagero, mas nenhum nome serve melhor para me definir. Sou um Zé, pronto, já basta. Um cara simples, comum... feliz. O típico Zé. O Luiz é brinde.

Pra que é que eu estou criando um blog? Não sei... juro que não sei. Lembro que da primeira vez que eu ouvi falar disso, foi num tele jornal. Eu cheguei a rir da proposta: “criar um espaço na internet para divulgar situações cotidianas, uma espécie de ‘diário virtual’”. Aquilo era coisa de patricinha. O que eu não sabia era que com a popularização constante da internet, o segmento de blogs passou a ter uma utilidade muito mais ampla do que a de ser um simples diário, inclusive para o ramo jornalístico, ao qual, com muito custo, eu estou tentando me inserir. Essa passou a ser uma possibilidade real de divulgar e difundir idéias, pensamentos, conhecimentos e demais inutilidades intelectuais criadas por mentes doentias e insanas como a minha.

Sendo assim, resolvi aderir. Usarei esse espaço para postar tudo aquilo que fica pipocando em minha cabeça, e que me vejo obrigado regularmente a passar para um papel: serão crônicas, críticas, desabafos, dicas, receitas culinárias... o mundo irá conhecer o jeito Zé de ser.

Se você já me conhece, seja bem vindo. Se você não me conhece, seja bem vindo também. Se gostou do que leu, obrigado! Se não gostou, obrigado também. Apenas deixo claro que o que escrevo aqui não é feito para agradar, ou para pregar a filosofia de “como o Zé é 'fódão'”. Sempre tive um medo danado de divulgar meus pensamentos por considerar que poderia estar fazendo pose de menino intelectual, coisa que definitivamente eu não sou. Apenas acho que será mais lucrativo pôr meus escritos aqui, do que arquivá-los em uma gaveta qualquer. Escrevo apenas para desabafar, libertar minhas idéias das paredes de minha imaginação. Gostar ou não, já é outra história... sou um escritor medíocre, eu sei, mas sou persistente (ou canalha) o bastante pra continuar escrevendo.

Vou tentar atualizar isso periodicamente. Vou tentar. O tempo ultimamente anda curtíssimo. Ainda acredito que depois da terceira postagem ficarei de saco cheio, com preguiça, e largarei esse treco. Se vocês lerem a quarta postagem, é porque resisti a tentação e provavelmente continuarei postando.

Acho que é isso. Explicarei o resto com o tempo. A princípio, pra um primeiro encontro, para uma apresentação, já está de bom tamanho. Não é verdade?