domingo, 27 de abril de 2008

Terremoto

Nesta última semana o país foi chacoalhado (com trocadilho, por favor) pela notícia de um terremoto de 5,2 graus na escala Richter, cujo epicentro do abalo foi a cerca de 270 quilômetros da costa brasileira. Mesmo relativamente longe de "terra firme", o fenômeno foi sentido em pelos menos quatro Estados brasileiros, incluindo o meu, o aprazível Paraná. Um susto e tanto para quem achava que o maior risco de catástrofe que atormentava nosso país era o caráter e a honestidade de nossos políticos.

Não há registro de grandes estragos nem de vítimas fatais, já que o principal feito do tremor, segundo relatos dados à mídia do país inteiro, foi fazer com que os mais idosos pensassem que estavam tendo uma crise de pressão ou de labirintite.

Aqui em Curitiba, apenas alguns bairros sentiram os tremores, e mesmo assim, só em edifícios mais altos. Eu por exemplo, que no momento estava em aula, não senti absolutamente nada... Quer dizer: senti sono, cansaço e fome, coisas que, acredito eu, não dependem da ocorrência de abalos sísmicos para acontecer.

De qualquer forma, não deixa de ser interessante constatar um fato: eu sobrevivi a um terremoto. O sexto maior da história do nosso País. Um dia direi isso para o meu neto e ele provavelmente vai pensar que eu sou uma versão real do John Mclane, Magaiver, Jack Bauer ou Chuck Norris... Isso se ele ouvir falar de algum deles até lá.

Mas o assunto nem é esse. Juro que ouvi dúzias de relatos de amigos e colegas falando que presenciaram todo tipo de histeria coletiva em função do ocorrido: desde gente se recusando a sair debaixo de mesas, até choro desesperado.

Isso nos leva a refletir sobre como um determinado fato pode ter influências distintas de pessoa para pessoa.

Dá até pra imaginar certas coisas:

***

-Alô?

-Alô! Bianca?

-Sim?

-É o Rafael!

-Rafael?

-Sim... Lembra de mim?

-Ai! Desculpe... Deve ser o cansaço! Não estou lembrando.

-Ah não? Fui seu colega no colegial!

-Colegial?

-É! Colegial! Você sabe... O ensino médio, antigo segundo grau!

-Sim, isso eu sei. Mas isso foi há quase 15 anos atrás!

-Pois é... E então, lembrou de mim?

-Bem... Rafael, né? Deixa eu pensar um pouco.

-Um loirinho, baixinho.

-Olha, sinceramente... Não me vem nada na cabeça!

-Ah... Bem... Fazer o que, né?

-Desculpe mesmo. Deve ser a idade!

-Imagina! Você está super conservada. A idade te fez bem.

-Como?

-A idade te fez bem. Você está linda.

-Como é que você sabe disso?

-Do que?

-Que eu “estou linda”? Que eu saiba a gente não se vê faz uns 15 anos!

-Bem... É que eu ando te observando, sabe?

-Como é que é? Me observando?

-Sim! Eu sei muita coisa sobre você!

-Ai Meu Deus... O que você quer de mim, hein?

-Nada, não se preocupe. É que eu sempre te admirei... Mas não tinha coragem de admitir! Mesmo assim, não pude deixar de me manter interado sobre você durante todos esses anos.

-Você está me assustando!

-Não! Por favor, não faça isso. Não se assuste!

-Como é que você quer que eu fique calma? Um cara me liga dizendo que anda me observando secretamente nos últimos 15 anos e você quer que eu fique calma?

-Eu sei que é chato! Eu não pretendia revelar isso... Mas é que eu tive um sinal.

-Sinal?

-Sim! O terremoto!

-O que é que tem o terremoto?

-Ora: ele foi um sinal! Um aviso dos céus de que a gente tem que aproveitar a vida. Você já viu um terremoto antes no Brasil? Isso é a prova de que tudo está mudando! Que a vida é curta demais para se negar o que a gente sente.

-Você está louco!

-Não! Não estou. Estava pensando em você quando tudo aconteceu. Pensei comigo mesmo: “Poxa vida... De que me adianta amar uma mulher se ela não sabe disso? Daqui a pouco acontece uma tragédia de verdade, tipo um terremoto forte, um furacão, uma erupção vulcânica de grandes proporções e todo o amor que eu cultivei não vai ter valido de nada.”

-Para começar: o Brasil não tem nenhum vulcão!

-Pode começar a ter. Já pensou nisso? Tudo é possível. Foi pensando nisso, no quanto a nossa vida é vulnerável diante do poder na natureza, é que eu resolvi tomar coragem e te ligar.

-Escuta Roger...

-Rafael!

-Desculpe... Rafael: eu nem lembro direito de você! Como é que você quer que aconteça alguma coisa entre a gente?

-Eu já pensei em tudo! Vamos sair para beber alguma coisa? Um copo de leite, sei lá! Daí, a gente bota o papo dos 15 anos em dia e você pode me conhecer de verdade.

-Eu sou casada!

-Eu sei! Mas o seu marido é um chato, com todo o respeito. Acho que se você me conhecesse de verdade, iria largar ele.

-Pelo amor de Deus... Eu amo ele! Tenho filhos com ele! Como é que você acha que eu vou largar tudo pra ficar com um cara que eu nem lembro que passou pela minha vida?

-Eu sabia que você ia agir assim. Mas com o tempo você vai me dar razão! Eu vou esperar por você o tempo que for preciso! Aquele tremor não foi à toa.

-É mais fácil acontecer outro terremoto do que eu dar bola para um maluco como você!

-Pode falar, pode falar... Quer saber? No fundo no fundo você lembra quem eu sou. Só está se fazendo de difícil!

-Eu não acredito no que eu estou ouvindo!

-Eu estou certo não estou? Pode dizer “eu te amo!”. Vamos lá, não negue seus sentimentos, estou esperando. A natureza quer nos unir meu docinho!

-Tchau Roger...

-É Rafael... Tá ouvindo? Rafael! Alô? Alô??