Eu tenho o ótimo hábito (ou péssimo, depende do ponto de vista) de ouvir a conversa alheia. É um negócio meio involuntário, mas que proporciona para nós, ouvintes atentos, momentos memoráveis.
Mesmo assim, tem certos diálogos que você só ouve numa semana de São Paulo Fashion Week...
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-Menina do céu... Você viu o desfile da Gisele?
-Gisele?
-A Bündchen!
-A Magrela?
-Essa mesmo.
-O que é que tem?
-Ela só entrou duas vezes na passarela.
-Sério?
-E ganhou uma fortuna.
-Poxa vida.
-Acredita nisso?
-Ô... Mas ela merece.
-Nada!
-Porque não?
-Tudo fachada.
-Jura?
-Sim.
-Acho que não, hein?
-Te garanto.
-Ela é linda.
-Tudo plástica!
-Tá brincando?
-Te juro. Sabe o nariz?
-O que é que tem?
-Mandou empinar.
-Não pode ser.
-Tô te falando...
-E o olho?
-Lente!
-Putz!
-Até o cílio é postiço.
-Me nego a acreditar!
-Tenho fontes, menina. Aquela ali, se chacoalhar, cai tudo. Se bobear até o cabelo é peruca!
-Gente do céu... To bege!
-Pois é.
-Mas ela tem um corpão.
-Tudo no bisturi minha filha, no bisturi!
-Ah? Pare!
-Família rica. Foi pra faca ainda menina.Gordinha, vesga e orelhuda. Mexeram
-Mas eu ouvi falar que ela veio de família humilde.
-Tudo boato.
-Até o peitão é fabricado?
-Lógico. Aquela ali tem silicone até na panturrilha.
-Mas eu ouvi falar que os seios dela eram naturais.
-Mentira.
-Tem certeza?
-Tudo marketing!
-Poxa vida... Até o peito?
-Pra você ver...
-E pensar que eu achava ela um modelo de beleza nacional.
-Iiii minha filha: Deus é perfeito, mas tem coisas que só o Pitanguy consegue fazer.
-Esse mundo tá perdido, gente.
-Ô se tá. Não dá pra viver seguindo esse padrão de beleza fútil que é imposto pela sociedade.
-Verdade. Quer um gole da minha Coca?
-É light?
-Lógico!
-Então eu quero.