sábado, 9 de fevereiro de 2008

God Bless América

Não sou daqueles que faz questão de ler o caderno de economia todos os dias. Aliás, pensando bem, acho que não conheço quase ninguém que se dedique a ler as páginas desta injustiçada vertente do jornalismo. De qualquer forma, foi inevitável acompanhar nas últimas semanas as dúzias de notícias divulgadas pelos veículos de imprensa falando sobre a recessão na economia americana. Tal fato gerou uma reação em cadeia nas bolsas de valores ao redor do mundo, que tiveram que rebolar para não sofrerem as conseqüências do verdadeiro abalo sísmico monetário provocado.

Quem diria... Até eles passam por isso!

A verdade é que chega a ser difícil de acreditar que os americanos também podem ter crises econômicas semelhantes à de qualquer outro país deste planetinha mixuruca. Fomos “ensinados” desde cedo a compreender e aceitar a posição de superioridade dos herdeiros do Tio Sam em relação ao restante do mundo. Talvez isso explique tamanha surpresa por parte de todos com as notícias dos últimos dias.

Tais acontecimentos me levaram a conceber uma hipótese bastante improvável, mas que não deixaria de ser relativamente interessante (pelo menos do ponto de vista sociológico): já pensaram se daqui a alguns anos a toda poderosa América se tornasse um país pobre? Eu sei que tal insinuação é absurda, mas tentem pensar nisso. Em como teríamos que explicar para nossos filhos e netos qual era o grau de importância daquele país para o resto do mundo.

Vocês podem até discordar, mas eu acho que seria divertido...

***

-Pai: que país é esse?

O garoto estava ajoelhado no meio do Atlas recém comprado por seu pai. Tinha passado a tarde inteira ali, fuçando os continentes à procura de algum país que ainda não tinha ouvido falar. Tarefa difícil. O menino era craque em geografia, sobretudo se comparado a alguém na sua idade. Manjava quase tudo do assunto. Mas, para sua surpresa, tinha se deparado com uma bandeira meio esquisita, de listras vermelhas e brancas com um retângulo azul repleto de estrelas que remetia para uma nação meio encolhida, situada ao norte do continente americano, da qual nunca tinha se dado conta. Ficou curioso. Afinal de contas, que lugar era aquele?

-Ah filho... Esses são os Estados Unidos!

-Estados o quê?

-Unidos!

-Hum... Legal! Nunca tinha ouvido falar!

-Pois é: faz tempo que ninguém dá muita importância para eles.

-E eles já tiveram alguma importância?

-Acredite filho: esse já foi o país mais poderoso do mundo!

O garoto deu uma gargalhada gostosa, daquelas típicas de quem acabou de ouvir uma boa piada.

-Fala sério pai!

-Estou falando! Os americanos já foram importantíssimos pro planeta!

-Ahhh... Conta outra!

-É verdade!

A incredulidade do menino estava irredutível.

-Se é assim, como é que eu nunca tinha ouvido falar desses caras?

-É que eles tiveram uma crise econômica bem feia lá pelos anos de 2007, 2008... Depois disso foram caindo, perdendo importância!

-Sério?

-Sim. Sabe o George Bush?

-Aquele líder do Talibã?

-Esse mesmo! Ele era o presidente dos Estados Unidos naquela época! Uns dizem que ele só chegou ao governo pra sabotar a economia deles!

-E porque ele faria isso?

-É que muita gente não ia com a cara dos americanos, sabe? Eles eram conhecidos por serem muito metidos, prepotentes... Sua cultura e seus hábitos influenciavam o mundo inteiro! É mais ou menos o que acontece hoje com a China!

-Como assim?

-É simples... Tá vendo esse chapéu que você está usando?

-O que tem ele?

-Esse é um chapéu típico da China!

-Mas ele está na moda!

-Pois é: influência dos chineses! O mundo inteiro tem usado isso, porque está na moda lá! Quer ver outro exemplo? Qual é sua banda favorita?

-Os “Ling-Lings Dragons”, é claro!

-Eles são chineses, não são? É mais ou menos isso que acontecia com os Estados Unidos: tinha muita gente que adotava os hábitos culturais deles, justamente por eles serem a nação mais poderosa do mundo! Para você ter uma idéia, quando eu tinha sua idade, minha banda favorita era americana!

-Credo! Que estranho!

-No cinema também era assim! A maioria dos filmes que passavam nos cinemas era dos Estados Unidos!

-Eca! Até isso eles faziam? E eu que sempre achei que isso é coisa só de indiano!

Dessa vez quem riu foi o pai do garoto. Nem ele acreditava direito no que dizia! Quanta nostalgia. Quem diria que aquela super nação, uma potência econômica que dominava o mundo, se tornaria um país mequetrefe que foi obrigado a vender metade de seu território para os mexicanos a fim de pagar a própria divida externa.

Era até engraçado observar seu filho ali, com cara de incrédulo. Ah se ele soubesse que nos tempos do seu velho pai não existia “Bambu Cola”, nem espetinhos de gafanhoto no “Mc’Lee”. Que o super-herói de quadrinhos mais famoso não era o “Panda-Alado” e sim o “Super-Homem”. Que naqueles tempos o que existia eram protestos contra o “capitalismo selvagem”, e não contra o “comunismo imperialista”.

-Se você tivesse visto o que eu vi, não iria acreditar!

-Mas eu não estou acreditando mesmo! Isso é estranho! Os caras praticamente copiaram a bandeira de Porto Rico, e o senhor que eu acredite que eles já foram um grande país?

-O mais poderoso de todos, filho!

-Hunf... Daqui a pouco você vai me dizer que o Haiti já foi pobre!

-Hahahaha! Filho, filho: as coisas mudaram muito!

-Mudaram muito? Então o Brasil já foi um país rico e sem corrupção? Com educação, segurança e saúde de qualidade para todos?

-Não... As coisas mudaram, mas nem tanto! Isso ainda continua igual!